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Mostrando postagens de setembro, 2021

Crônica: O Relógio e o Calendário

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  Crônica: O Relógio e o Calendário   O relógio e o calendário já foram meus senhores por tempo demais! Corri por longos anos para chegar no horário.  Neste meu momento atual, correr nem pensar; nem meu corpo permite mais. Diante de uma data festiva , lá ia eu me atropelar para comprar algo para alguém, e se não comprova era visto como falta de atenção, desafeto. Nunca gostei de datas comemorativas sendo empurradas goela abaixo à Sociedade. Talvez porque nossos costumes (da minha família) eram outros, como orações, pedindo saúde e proteção divina. Ademais o comércio criou tantas datas especiais, que de especial não têm nada. Cada dia mais vou me libertando dessas cobranças: simplesmente não me incomoda mais o que pensem, ou a repercussão da minha ausência, até porque nossa presença não é tão imprescindível assim. Na noite de Réveillon fico em casa, esperando o dia seguinte em que as pessoas estão mais calmas, para eu ir a algum lugar. Hoje, apenas pequenas reuniões me atraem, e c

Perda de Avó

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  Perda de Avó   Leo chorava compulsivamente pela perda da avó paterna. Nada o consolava, nem mesmo três ou quatro tias, não lembro bem, acho que as tias Orné, Madá, Mira, Nalva... Chegou a vomitar, de tanto sofrimento para uma criança de apenas 9 anos. A morte de ente querido é difícil para nós adultos, imagine para ele, tão jovem, tão sensível. Eu observava de longe, sem saber o que fazer. Como Leo não havia se alimentado com absolutamente nada naquela triste manhã, as tias começaram tentar de todo tipo de doce, coisas de que criança gosta, mas ele nada de aceitar. Depois de algumas horas, já mais calmo, ele disse: — Tia, então faça assim: passe dois pães com ovos e dois com manteiga, pra mim. Não era momento apropriado, mas o jeito foi rir.  

Contos de Gael, uma “figura”

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                                                    Contos de Gael, uma “figura” Sentado na sala de Pilates, todo esticado, tentando alcançar os pés com as mãos, estava Gael, 5 anos. Ao lado suas “coleguinhas” de 40, 50 anos, uma delas Violeta, vaidosa e cheia de tatuagens, as quais logo chamaram a atenção daquele menino observador: — Violeta, isso aí em seu braço é uma tatuagem? — Sim. Eu tenho várias: aqui no ombro, nas costas, no tornozelo... — e ia mostrando cada uma. — E na bun... você tem? — Gael! Você tá querendo ver minha bun... — Ah, é que você tem em tanto lugar..., podia ter uma também aí! Certa feita precisou realizar quimioterapia em Salvador, com apenas três aninhos. Impaciente com a demora na transfusão de sangue/plaquetas, chegou para a enfermeira e disse: — Oh Rita, traz logo minhas “pateta” aí, que eu preciso viajar pra Serrinha! É assim, muito decidido e cheio de imaginação. Queria namorar a prima; pediu-lhe em namoro, sem titubear, mas a pretendi

Conto: Poly, a Pequena Retirante

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  Conto: Poly, a Pequena Retirante   Poly sempre foi muito dengosa e amada por todos que a cercavam. Às vezes tinha umas atitudes de gente adulta, como cuidar de pessoas doentes, dentre parentes e amigos, apesar da pouca idade: apenas sete ou oito anos à época. Quando seu tio Paulo adoeceu, sentava-se à beira da cama para fazer sentinela de dia e à noite, dava remédios, chás, conversava com ele como gente grande. Isso aconteceu na casa da avó materna (vó Deta, como costumava chamar carinhosamente). Certo dia Poly brigou com os seus pais, aborreceu-se, não lembro bem por quê. Sei que pegou um saco plástico, daqueles de supermercado mesmo, colocou umas roupas dentro, um pão e uma boneca sem braço — sua preferida — e disse: — Vou embora para casa de vó Deta, nunca mais vocês vão me ver! E saiu com aquele saco nas costas, parecendo uma retirante da seca do nordeste baiano. Do portão da casa ficaram seus pais a olhar, achando graça, mas sem demonstrar, inclusive disseram: — Pode