Relatos de um cupido frustrado
Relatos
de um cupido frustrado
Desde
muito cedo recebi a dádiva de ser amada, e talvez por isso mesmo gostava de
formar pares românticos, dentre aqueles que conhecia e com quem convivia, fosse
na escola, na família, no trabalho, na faculdade...
Margarida
Margarida,
professora, foi uma das primeiras vítimas do cupido. Eram conhecidas as frustrações
dela em encontrar um casamento, o qual era muito desejado, sonhado, tanto em
forma de príncipe quanto de sapo, como ela própria dizia. Pensei por longo
tempo, até encontrar um homem perfeito para ela: nem príncipe, nem sapo; era charmoso,
gente boa e trabalhador. Marquei o encontro dos dois e foi tiro e queda, ou
melhor, flecha e queda, queda de amor, mas só da parte dela, para o meu
desespero! Roberto não foi fisgado pelos encantos de Margarida, surpreendentemente.
O namoro durou alguns meses, ao menos proporcionando aos dois um pouco dos
prazeres da vida, senão o maior deles. Acredito que minha missão foi cumprida,
apesar de não ter dado em casamento.
Hoje
Roberto vive só; Margarida se casou sem a minha ajuda.
Luísa
Luísa
estava fazendo faculdade de veterinária; sempre adorou animais. Meiga, bela e muito
família, disse-me estar sozinha naquela cidade, distante de seus pais e amigos.
Resolvi apresentá-la a um rapaz estudante de fisioterapia; um doce de menino.
Marcos parecia ser a pessoa que lhe faltava: ele muito só também, era do
interior do estado do Nordeste baiano. O namoro começou morno da parte dele;
depois os encontros foram ficando cada vez mais distantes e frios. Descobrimos
juntas, tempos depois, que Marcos era homossexual.
Luísa
se casou com um colega de faculdade o qual eu nem conhecia, e Marcos sumiu;
soube que foi embora para outro estado.
Ângela
—
Menina, eu não quero mais saber de homem que estuda, não! Apresente-me a um
pedreiro, marceneiro, homens que lidam com coisas práticas da vida; aqueles
homens que estudam demais não têm tempo para namorar, não! — disse-me Ângela,
ao sugerir para ela um pesquisador de determinada faculdade. Ângela foi casada
com um professor de filosofia: “pensava demais”, segundo ela, por isso esse
trauma. Recusou minha ajuda e declarou que já devo me aposentar nessa profissão
de cupido, pois com tantos sites de
namoro, ser cupido já caiu em desuso. — Pena, eu não penso assim. É muito mais
seguro ser apresentada a alguém do nosso círculo de amizade e de família —
argumentei.
Ângela
viaja pelo mundo, sozinha, sem problemas. Adora!
Sempre
que um homem se diz solitário, sozinho (coisa rara entre homens maduros), eu
passo logo o telefone dele para uma solteira da minha lista (que é enorme).
Marias, Lívias, Terezas...
já realizei muitos namoros, apesar de nem um casamento sequer. Unir duas
pessoas solitárias é maravilhoso! Ser uma ponte entre elas sempre me trouxe
enorme alegria.
Lairte Souza
Serrinha/BA, outubro/2021.
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