Conto "Um Menino Homem"
Um Menino Homem
Era tarde da noite quando a mãe de Gevânio o acordou e disse:
— Meu filho, seu pai não está aqui; levanta e corre até a casa de Mãe Pequena que eu preciso dela agora. Pegue a égua no pasto, sele e vá. Não tem outro jeito!
Gevânio se levantou rápido, ainda sonolento, vestindo apenas um short e camisa. Descalço mesmo como estava, pegou o cabresto e saiu pasto adentro para pegar a égua. Fazia muito frio; chamava o animal em meio à escuridão, mas não avistava nada, até que um vulto perto de uma árvore se mexeu e o menino se aproximou, tentando tocar nele, sem conseguir, pois a égua se afastava; não obedecia. Gevânio olhou para os lados e, vendo o tempo passar sem sucesso, começou a chorar, por não dar conta daquela incumbência tão urgente, sendo ele naquele momento o único homem da casa. E pensar que só tinha 8 anos de idade... Avistou umas espigas de milho; correu, pegou uma delas e ofereceu ao animal que a aceitou, enquanto ia passando o cabresto. Puxou-o até a cerca e subiu com dificuldade nele, mas enfim havia conseguido!
Retornou para pegar a sela e ouvir as últimas recomendações de sua mãe:
— Depressa, meu filho! Diga a ela que não demore e venha com você!
Correu o menino atravessando vegetação e cortando vento, com sono e frio, mas precisava cumprir aquela ordem, aquele clamor que, na verdade, não sabia do que se tratava; não tinha conhecimento para tanto naqueles tempos. Chegou ao destino depois de quase uma hora e gritou: ó de casa, ó de casa! Era mais de meia noite e todos dormiam, mas atenderam seu chamado. Então sem fôlego transmitiu a mensagem. Mãe Pequena pediu para esperar um minuto; foi para dentro e voltou com muitos panos e objetos. Subiu na égua, na parte da frente da sela, deixando o garoto agarrar na sua cintura por trás. Nesse momento Gevânio sentiu um calor maravilhoso daquele corpo forte que o protegia do vento frio da noite.
Chegando em casa de sua mãe, só queria deitar novamente, jogando-se em cima das palhas que encontrou na sala, pois o sono era demais para alcançar o quarto, inclusive já viera dormindo na garupa. Ademais, não sabia se precisava levar aquela senhora de volta.
Até o momento desconhecia o motivo da diligência que realizara. Seu pai, tocador de viola, estava nos sambas lá pros lados do Lamarão. Depois de alguns minutos, ouviu um miado que parecia de gato, repetidas vezes. Descobriu, então, que nascera um bebê, e que era choro de criança e não miado de gato.
Hoje com 67 anos ficou a pensar que, naquele tempo, um menino era um homem de verdade!!
Uma homenagem a Gevânio e Catarina .
Lairte Souza
Serrinha, fevereiro de 2023.
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